Intolerância Religiosa
21 de janeiro de 2021
“Os homens jamais fazem o mal tão completamente e com tanta alegria como quando o fazem a partir de convicção religiosa” – Blaise Pascal.
21 de janeiro, dia nacional de combate à intolerância religiosa. E o que de fato é intolerância religiosa? Ela realmente está em nosso cotidiano? Conseguimos observá-la em nossas atitudes ou nas pessoas que nos cercam?
Para analisarmos e debatermos essas questões é preciso nos debruçarmos sobre a história da humanidadee compreendermos que à intolerância religiosa sempre esteve presente. Cito alguns exemplos:
Os adeptos do cristianismo foram os primeiros a sofrerem perseguição do Império Romano, que se considerava ameaçado pela grande propagação da religião. Entretanto, quando alcançaram a legalidade, cristãos passaram a discriminar pagãos, judeus e, tempos depois, muçulmanos.
A perseguição aos Judeus no Antigo Egito – culminando no Êxodo do povo israelita para o deserto – e, séculos depois, no período da Segunda Guerra Mundial. O regime nazista de Adolf Hitler condenou e matou milhões de pessoas de etnias e crenças diferentes por julgar estes serem uma “praga” instalada na sociedade alemã.
Atualmente, a força da intolerância se espalha por territórios do islamismo. Ordens extremistas impõem de forma violenta suas concepções da religião, expulsando e matando aqueles que não concordam.
No Iraque, por exemplo, as vertentes islâmicas sunitas e xiitas são protagonistas de conflitos e guerras civis. Um grupo cultiva o ódio para com o outro, sendo os xiitas os mais perseguidos, pois se apresentam em menor quantidade.
Esses são apenas alguns traços de intolerância registrados na história da humanidade que, ao analisa-los de forma minuciosa, nos fazem compreender que o problema está enraizado de modo muito mais profundo e preocupante em nossa sociedade.
Quanto ao Brasil, este não é diferente. Comunidades religiosas se julgam serem mais “santas” ou próximas de Deus do que as outras, apontam os “defeitos” dos outros como uma forma de doutrinação, e convencem seus fiéis que todo o resto está fadado ao fracasso oudistante de alcançar a vida eterna (prometida por Deus – João 3:16).
No que tange às pessoas, estas estão cada vez mais empossadas como “juízes da verdade e do conhecimento” (Albert Einstein), disseminando e provocando discórdia em suas famílias, em seus empregos e por onde andam.
Até às escolas não escapam dessa triste realidade. Esses locais estão se tornando verdadeiros centros de tortura psicológica para certos alunos. Crianças e adolescentes forjados pela doutrina opressiva dos pais, se tornam torturadores daqueles que não exercem sua mesma fé, ou seja, movendo às correntes das próximas gerações praticantes desse mal.
É claro que toda regra existe sua exceção. Assim como esses fatos são verdadeiros, existem pessoas que procuram todos os dias erradicar esse vírus chamado intolerância religiosa.
Contudo, estamos ainda muito longe do que seria o ideal.
Por outro lado, analisando de forma técnica, o termo intolerância religiosa se deu em razão para exemplificar a incapacidade de aceitar e respeitar a religião ou crença de outros indivíduos. Ela é configurada principalmente pela discriminação, violência física e ideológica, ou qualquer ato que fira a liberdade de culto.
De acordo com a declaração da Organização das Nações Unidas (ONU), esse tipo de intolerância caracteriza-se como “toda a distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada na religião ou nas convicções e, cujo fim ou efeito seja, a abolição ou o fim do reconhecimento, o gozo e o exercício em igualdade dos direitos humanos e das liberdades fundamentais”.
Em suma, essa data significativa é derivada da Lei de nº 11.635/2007, onde se presta uma homenagem à Iyalorixá Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum, em Salvador – que sofreu infarto após ser acusada de charlatanismo e ter sua casa e terreiro invadidos. É a mesma data de falecimento da Iyalorixá, que se tornou símbolo de combate à intolerância, especialmente em relação as religiões de matriz africana.
Portanto, acredito que a regra de ouro consiste em sermos amigos do mundo e em considerarmos toda a família humana como uma só família. “Quem faz distinção entre os fiéis da própria religião e os de outra, deseduca os membros da sua religião e abre caminho para o abandono, a irreligião.” (Ganghi).
Que possamos sempre ter esse espírito de união, afinal, esse sempre o desejo de Deus para com seus filhos. (“amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” João 13:34).
Tiago Nasser
OAB/MS 8.023-E